Thursday, June 30, 2011

Excepção a regra

Cada povo tem seus custumes e tradições. E mesmo dentro de um mesmo povo cada familia tem a sua forma de educar e escolhe os valores a serem mais relevantes dentro desta educação.

Minha familia
No meu caso, talvez seje um pouco dificil falar da minha etnia, e penso que uma boa parte das pessoas de minha geração talvez partilhem do mesmo problema. Pela parte materna sou de origem Umbundu e Kimbundo pela paterna. Nasci em uma região Umbundo, mas vivi a maior parte da minha vida em Angola (com excepção de 3 anos) em Luanda, portanto Kimbundu.

Em geral nas nossas tradições africana, a educação dos filhos esta entregue a responsabilidade da mãe. E pelo facto de minha mãe ser do Sul, certamente que a minha foi baseada nos valores culturais do sul. No entanto tal educação em determinadas alturas conflituava com os valores de meus familiares paternos e amigos. Lembro-me que minha mãe sempre insistiu comigo que ao ser convidado em casa "alheia" nunca deveria ir para além de onde meu anfitrião me convidasse a entrar. E mesmo assim, deveria sempre limitar-me as areas comuns.

No entanto, não demorou muito para que me desse conta que se na maior parte das vezes eu me conseguia limitar a estes espaços - na verdade nem era dificil porque raramente brincava em casa dos outros - ja os meus amigos pareciam ter dificuldades em limitar-se a estes espaços. Lembro-me que muitos deles não tinham problemas em seguir-me para qualquer lado dos compartimentos de minha casa incluindo o quarto de minha mãe, que segundo a educação era o lugar que ja mais eu entraria em casa dos outros.

Se esta é uma regra que até hoje tenho dificuldades em quebrar, lembro de outra que tive de fazer-lo sem o consentimento dela.

A mãe sempre recomendou que nunca deveria ir para casa dos amigos proximo das horas das refeições porque não é bom custome ter de comer em casa alheia. Durante a infância e adolescencia, foi quase sempre possivel respeitar tais regras. No entanto a partir da altura em que comecei a frequentar o ensino médio e como tal, muita das vezes tinha de ir aos grupos de estudos com sessões que se prolongavam até altas horas, começou a tornar-se dificil respeitar as regras da mãe. Primeiro, porque a velha desculpa de que não tinha fome nem sempre funcionava. Era mais do que obvio que depois de 4 a 5 horas de estudo tinha mesmo de ter fome. Mas o mais dificil mesmo era rejeitar quando era convidado a comer refeições "humildes". É que sempre ficaria a impressão de estar a rejeitar pela "pobreza do prato".

Por esta altura, jogava sempre na diplomacia antes de rejeitar. Mas no entanto sempre ficava aquele peso de consciência por estar a ir contra os principios de casa.

A determinada altura, tive de sair com a mãe em visita a uma amiga sua que tinha alguem doente em casa. Lembro-me que naquela faze a nossas condição social era mesmo humilde, mas a amiga em questão passava por dificuldades que deixou-me mesmo comovido. E deu-se que a visita prolongou-se para além das horas da refeição. Conforme os bons custumes africanos, não nos foi perguntado se queriamos almoçar, simplesmente nos foi trazido o alimento. E ainda recordo que a refeição era de algo que minha mãe em geral não gostava de comer, mas naquela ocasião ela aceitou sem cerimonias e comeu com toda a satisfação.

Certamente que tambem o fiz, mas durante o resto da visita não parava de desejar que a mesma terminasse logo para fazer a pergunta que mais me aponquetava.

Na verdade nunca fiz tal pergunta, simplesmente depreendi que eu na verdade sempre estive certo. Existem excepções a regra.

8 comments:

Lady Grey said...

Gostei muito deste post, não conhecia o seu blog, mas vou acompanhar! Felicidades e continue com esta escrita sincera.

Wils@n - O Tal said...

Obrigado pelo comentário. E certamente me sinto encorajado a continuar postando.

Anonymous said...

Achei interessante o tema em questão. Não conhecia o teu lado de escritor mas dou-te toda a força pra continuares. Só uma observação: aí aonde tem escrito Angola não será Huambo? Força e um grande kandandu!!! Rui Pequenino.

Wils@n - O Tal said...

Oi Ruy. Obrigado pelo teu comentário.
Na verdade me referia mesmo a Angola. É que ja la vão mais de 5 anos ausente, achei que é relevante porque até é muito mais do que o tempo que vivi no Huambo.

isaquiel cori said...

Certamente as excepções confirmam as regras. A educação e os valores que recebemos em casa formam o edifício da nossa personalidade mas é muito bom quando, mesmo sem os pôr em causa, começamos a racionalizar, a reflectir em consciência sobre esses valores. A forma simples e sincera como discorres sobre o assunto é tocante e faz-me acreditar que deves considerar seriamente a possibilidade de encarar a escrita como algo mais do que um hobby.
Isaquiel Cori

Anonymous said...

na medida k o tmpo vai passando sinto k preciso me libertar d muitos tabus e amadurecer alguns principios,.., tanto dstes como d alguns religiosos. as raizes do bem e o mal sao absolutos mas a actuaçao eh relativa.
quero isto dzer k algumas vezes tmos a sensacao k stamos a ajudar algm ou a fzr o bm, mas pdmos star a fazer o oposto. Deus nos deu inteligencia para alcançar a verdade, nenhum homem tem toda verdade, dvmos smpre ouvir os outros mas com um senso critico. Jesus disse: Cobheceis a verdade e a Verdade Vos Libertara! Hamilton Cristovao. Força mano continue a escrever!

Wils@n - O Tal said...

Hamilton, interessante raciocinio filosofico. Concordo contigo, nem sempre somos bem interpretados em nossas acções. Quanto a libertar-te de alguns principios, não sei exactamente do que te referes mas penso que principios são coisas que não devemos abrir mão facilmente. É preciso ponderar cuidadosamente, parece-me que é o que estas a fazer neste momento. Sabes que estarei sempre ao seu lado.

Kady Mixinge said...

Devias levar a sério a escrita. Tens talento. A simplicidade na escrita, certamente, marcará o teu estilo. Força.