Thursday, June 23, 2011

A humildade que não nos caracteriza

Existe esta ideia de que Angolano é bangão, chacheiro e tudo mais alguma coisa. Pessoalmente olhando para os nossos vizinhos africanos, talvez não tenha duvidas destes atributos. Somos dos povos de africa que mais se identifica com o estilo de vida europeu do que com os valores tradicionais africanos (referindo-me a população urbana).

Diferente dos povos de outros paises africanos, em Angola mais facilmente se encontram nas zonas urbanas jovens que conseguem expressar-se em línguas estrangeiras do que em lingua materna. A quem mesmo pense que o português é a lingua materna em Angola. Os esclarecidos relacionam este facto com o tipo de colonização a que o país foi sujeito. Dizem que os colononizadores tentaram a todo custo eliminar as linguas nacionais atravez do tal conceito de que eles convencionaram chamar de assimilação. Talvez esta seja uma explicação logica, mas também é bem verdade que somos dos poucos países africanos que não têm lingua nacional oficializada passados mais de 30 anos desde que conquistada a independência.

Pondo tudo isto de parte, o que tem chamado a atenção nos últimos tempos, é a nova geração de jovens licenciados que mais do que mostrar o valor acrescentado que tal titulo deveria acarretar preucupam-se mais em ter a certeza que são tratados por um titulo que não possuem.

Sobretudo estudantes de Economia e Direito, desde os anos seniores de suas licenciaturas que exigem ser tratados como doutores, quando na verdade não possuem e a maioria deles nunca vai possuir tal titulo. Ao contrário dos verdadeiros Doutores, que procuram demonstrar os seus conhecimentos pondo-os em practica e na maior parte das vezes evitam mesmo ser chamados por tais titulos, nossos doutores evitam a todo custo por a mão na "massa" e se dão ao luxo de distratar os que não apendem a falsa referência de Dr. nos seus nomes.

2 comments:

G said...

Wilson,
Na verdade, em Angola, essa tamanha obsessão dos recem licenciados em serem tratados de doutor, mais do que muscular o orgulho daqueles que pretendem saber mais do que os seus conhecimentos académicos adquiridos lhes permite, demostra as principais sequelas do nosso sistema de ensino em geral, e, suprime, em particular, um sentimento de inferioridade institucionalizado pelo sistema colonial, e que, por mais que se nege, ele ainda corre nas veias de quem faz e dirige o ensino angolano. Infelizmente, ainda vivemos no sistema de ensino que a verdade nos seja dita, em muitos casos, especialmente nos primeiros anos de formação, vicia o inteleto do estudante angolano. Ele priveligia a memorização rota e desconexada à compreensão sistemática e complementarizada que lhe abre novos horizontes no desenvolvimentp do seu inteleto. Muitas das vezes, tanto por escassez de meios de ensino e materiais didáticos como a formação deficitária do corpo docente, o ensino compromete em muitos aspetos este desenvolvimento, como por exemplo, a duração do tempo da licenciatura e a própria formação dos licenciados. Em situação normal, 1 licenciatura em Economia ou Direito duraria entre 4 a 5 anos; na terra mae pode ir para além dos 4 ou 5 anos, a par das difilcudades de que os estudantes devem enfrentar para ultrapassar os obstaculos inflígidos pelos docentes universitários. Não é de todo uma supresa de k depois de licenciados, estes obrigam aos seus subaternos, e até mesmo ente queridos, trata-los por doutores, numa demostração do quanto arduoso e difícil foi concluir os estudos. Em vez de merece-lo, apropriam-se dos mesmos descaraterizando a honrosa designação de doutor. Por outro lado, acho que essa atitude dos recem licenciados deve ser analisada tendo em conta, igualmente, o cariz histórico sobre a superioridade inteletual que se traduziu para o sistema de ensino. Quanto maior for o grau académico, maior é o grau de assimilação, e deste, maior é a superioridade inteletual - ou seja, mais moderno, portanto, aos olhos do colonizado, mais europeu, e consequentemente, para o nosso infortúnio, menos africano. Num primeiro olhar pode nos passar de vista k tanto a necessadade de designação de “doutor“ tanto como, por exemplo, o uso frequente das línguas estrangeiras em deterimento da língua materna esboça o perfíl de alianeação que o sistema colonial impegiu as nossas sociedades e culturas e que, infelizmente, os nossos povos não foram capazes de se despreender do mesmo. Dai, surge, a meu ver, uma chamada de mudança que pode acontecer caso os detentores de poder de decisão, e a sociedade em geral, tomarem consciência da necessidade de identificarem com os nossos padrões culturais e não tomá-los de outras culturais.

Kandandu,

Flo (cacule dos manos Derito e Chinho)

Wils@n - O Tal said...

Amigo Flo,

Li seu comentario e não podia estar mais de acordo. Penso que temos exactamente a mesma opinião sobre o assunto. Devo também dizer que fiquei surpreso pelo nivel e profundidade da tua análise, é como se diz involuntariamente os nossos pais continuam nos vendo como crianças o tempo todo. Penso que é isto que passou-se, li seu texto e me custou acreditar que aquele rapaz traquina da Dona Isabel e o Sr. Furtunato é o autor desta profunda reflexão sociologica. Parabens rapaz, certamente tenho muito que apreender consigo.