Saturday, February 4, 2012

Uma opinião "demasiado" pessoal



Recentemente o jornalista Adebayo Vunge viu um artigo seu ser retomado pelo site Club K. O artigo teve uma grande audiência e reacção dos leitores. Tanto no site oficial do club de notícias, quanto na sua pagína no facebook dezenas de leitores reagiram negativamente ao texto do jornalista.

Pessoalmente, acho o texto interessante e já ha muito que esperava que tal debate se levantasse. Mas tal como a maioria dos leitores que reagiram negativamente ao artigo, lamento a linguagem usada por Adebayo Vunge para caracterizar este estilo de dança e música. Penso que não é certo chamar o kuduro de "arte menor" e outros tantos adjectivos, quando na verdade é um movimento que tem estado a conquistar espaço por mérito próprio e a destacar-se entre os vários estilos nacionais.

Dizer que o kuduro é a unica arte pela qual Angola se faz representar no mundo, penso que não corresponde totalmente com a verdade. Não é pelo facto de em duas ocasiões ter sido surpreendido por brasileiros a cantar kuduro para uma audiência em que se incluiam Angolanos, que signifique que o kuduro seje o unico estilo angolano conhecido além fronteiras. Também já estive em algumas partes do mundo e sei que os estrangeiros admiram-nos mais pela Kizomba e o Semba do que por outros estilos de música.

Nos Estados Unidos ja pude comprar Cd´s de Paulo Flores, Bonga, Valdemar Bastos e Irmãos Kafala. Recentemente encontrei a venda no Amazon algumas coletaneas de Kuduro e músicas dos anos pré independência. Penso que isto é apenas uma constatação de que a música angolana além fronteiras não se faz representar apenas pelo kuduro.

O Kuduro começa a tornar-se conhecido internacionalmente é verdade. Mas é bom que sejamos sinceros e admitamos que o que realmente promoveu o nome a nivel internacional (sobretudo na América e em outros países em que a música angolana não tem tido espaço) não foram os grandes feitos dos nossos musicos. Antes pelo contrário, foi sobretudo o grande hit de Don Omar "Danza Kuduro". E para sermos ainda mais correctos, temos de convier que tal música tem muito pouco haver com aquilo que conheçemos como kuduro. Mas no entanto, não deve ser dificil admitir que aproximadamente 305 milhões de vizualizações no youtube é mais do que publicidade suficiente para popularizar o tema central do hit de Don Omar.


E mais, o jornalista talvez tenha cometido mais um outro deslize no seu texto quando se refere a estilos músicas como a Bossa Nova, Jazz e Samba. Penso que não ha como misturar o Samba a músicas clássicas como Bossa Nova e Jazz e considerar o Hip Hop e Funk como músicas ou danças desprovidas de conteúdo suficiente para tornar-las referências ou simbolicas. Que critérios aqui foram considerados para promover o Samba e rebaixar tudo o resto?


Faz todo sentido que o debate em relação ao Kuduro deva continuar. É preciso que se deia seguimento ao movimento e se ajude a tornar esta música e estilo de dança uma cultura.

Para muitos o que se faz no Kuduro em termos de melodia, instrumental e mensagem esta bem. Eu sou daqueles que aprecio o ritmo mas acho que pode se fazer melhor no sentido de se criar um padrão e tornar a música mais apelativa. Existem alguns Kuduros com instrumentais que no meu ponto de vista são excelentes, mas com mensagens negativas. Penso que isto acontece em qualquer estilo de música. É uma questão de criatividade.

Não obstante isto, penso que existe aqui uma grande oportunidade, para quem de direito, apoiar os produtores no sentido de darem uma direção ao Kuduro que possa tornar-lo um estilo de música e dança em que qualquer angolano, inclusive Adebayo Vunge, se torne orgulhoso ao ouvir tocar da próxima vez que estiver no estrangeiro e não só.

5 comments:

Kady Mixinge said...

Subscrevo mano. Gostei do teu mergulho nesta problemática.

Nito Albano said...

A começar pelo nome do estilo musical/dança, que usa palavras vulgares e sem um verdadeiro sentido físico. Hoje quando tento assistir a um clip deste estilo fico ofendido pelo que vejo, acredito que nenhum pai ou mãe acharia aquele espectáculo em que o movimento sublinhado é um rabo semi-nú apenas um simples show de dança. Ligue a televisão e tente explicar a sua filha o motivo de tanta exposição. É possível que nem todos os cantores escolhem essa linha que eu devo concordar como sendo arte baixa, que ataca directamente o instinto sexual e especialmente dos homens, mas hoje em dia o que "pica" é o que mais vende.
Podíamos analisar outras vertentes, a letra, a cultura e intervencionismo mas o que mais ataca a nossa vista é a pornografia leve que torna-se cada dia mais pesada como se vê na foto deste blog.
Direcionar este estilo talvez significaria um retoque nas líricas, e um shift de 180 graus na indumentária e maneiras ilícitas/sexualmente aliciantes de dançar, eu também "direcionaria" o nome vulgar e usaria algo mais amigável como por exemplo quadrilflex!

Wils@n - O Tal said...

Obrigado Nito por ter partilhado o seu ponto de vista.

Apesar do texto ser mais uma resposta a um artigo que li do que propriamente a minha opinião sobre o estilo de musica e dança, devo dizer que partilho de muito do que dizes aqui. Mas ainda assim mantenho que não devemos ser criticos no sentido de denegrir o estilo Kuduro, mas sim contribuir com ideias que possam ajudar a melhorar-lo.

Adebayo Vunge said...

Meu caro amigo,

Apreciei bastante o seu ponto de vista, ainda mais porque se cingiu ao assunto e não à pessoa como foi apanágio de alguns leitores e comentadores na net.

Enquanto jornalista, julgo ter feito o meu papel: lançar um debate, problematizar uma questão; enquanto cidadão vivendo num Estado democrático, emite apenas a minha opinião, da qual muitos descordam e outros subscrevem;

Hoje, alguns meses depois, reconsidero alguns pontos, mas subscrevo o essencial: sendo um dos elementos, não deve ser o mote da nossa identidade, do nosso estandarte no mundo e até não é, só por isso oiço muitos comentários a respeito do Puto Português e a sua afirmação musical hoje com o Semba. E este caso prova que embora gostemos do kuduro, quando elogiamos uma certa ou pretensa ascensão do PP estamos a subalterniza-lo (?);

Vale o debate e proximamente retomarei o assunto.
Adebayo Vunge

Wils@n - O Tal said...

Caro Adebayo,

Obrigado pela forma diplomatica como encarastes o meu comentário. Não sou o dono da verdade em relação ao assunto e penso que nem mesmo voce, mas nesta troca de impressões podemos todos apreender e talvez contribuir para uma sociedade melhor.

Cordiais saudações.