Sunday, October 2, 2011

Desmaios em Angola

A explicação quase convincente

Parece que finalmente foi encontrada a explicação logica para as causas dos desmaios em Luanda. Depois das autoridades policias e um reputado médico do país terem aparecido ao público em conferência de imprensa afirmando categoricamente que as causas dos desmaios estavão associadas a fome, uso de postiços e histeria colectiva, finalmente o obvio: tudo não passa de intoxicação por inalação involuntaria de um produto de limpeza importado pelo ministério da educação.

Curiosamente, no meu post anterior em relação a este assunto, descartei as hipoteses avançadas pelas autoridades, inclusive a versão anterior que foi lançada antes da conferência e que foi retomada asseguir na qual atribuiam os desmaios a um acto criminoso perpetrado por individuos ja a conta com a justiça.

Nesta altura a versão que atesta o tal producto quimico de limpeza, ainda não foi divulgada pelos orgãos oficiais, mas tudo indica que é a causa mais plausivel tendo em conta a dispersão do fenomeno e o facto de atingir apenas escolas. Um dos jornais da capital que notícia o facto da também a conhecer que o governo ja orientou a retirada do mesmo do mercado e proibiu o seu uso nas escolas do país. No entanto, o facto de ainda na semana passada (27 de Outubro) mais 70 jovens estudantes de algumas escolas da periferia de Luanda terem desmaiados e sido socorridos no hospital do Prenda levanta a questão se efectivamente tal aconteceu antes de ser divulgada a ordem de suspensão do uso de tais productos ou se apesar de tais ordens o mesmo continua sendo usando. Talvez a averiguação da existência destes tais productos e a confirmação do uso deles nos periodos e locais em que aconteceram estes ultimos desmaios poderão confirmar a validade desta ultima hipotese.

No entanto, um dado que tem chamado a atenção é a forma como as autoridades têm lidado com o assunto. A começar pela prisão de jovens e catalogar-los como causadores de tais desmaios quando na verdade eram especulações que os factos vieram a provar poucas horas depois como infundados, passando pela conferência de imprensa em que foram oradores pessoas que mesmo não sendo especialistas na materia, muito menos estando elas munidas de evidencias cientificas puzeram-se a fazer afirmações que aproximam-se mais do absurdo do que poderia ser "hipoteticamente" possivel.

O facto de ter sido afirmado na conferência de imprensa de que estava descartada a possibilidade de intoxicação pelo facto de analises de saliva, sangue e urina não terem confirmado anomália alguma bem como a afirmação do médico psicologo de ter havido um estudo de especialistas em medicina mental e dele terem concluido que trata-se de um "síndrome de natureza psicogénica" levanta serias duvidas em relação ao trabalho de nossos especialistas.

Obviamente que existia e continua existindo uma certa pressão sobre as autoridades para que esclareçam este e outros tantos problemas que afligem a sociedade, mas certamente que fazer afirmações que não correspondem aos factos, tem efeitos muito mais nefastos para a imagem das nossas autoridades do que se tivessem usado de expressões menos liminares. Penso que é exactamente para evitar situações do genéro que os orgãos publicos devem com mais frequencia dar espaço aos seus homens da comunicação e imagem que em principio acredito terem a formação e habilidades suficientes para saber contextualizar as informações a serem transmitidas ao público.

A pergunta que fica é em relação ao que é que se pode esperar dos orgãos que publicamente apresentaram cidadãos como sendo culpados quando possivelmente não o são? Será que os mesmos se vão retratar a sociedade? E o que dizer dos responsaveis pela importação de tais productos? A provar-se que tais productos sejam realmente os causadores de tais situações e não existindo reports de que os mesmos tenhem estado a causar os mesmos danos em outras partes do mundo será que se pode daqui deduzir que os mesmos estejam simplesmente a ser produzidos para Angola, exactamente porque seus productores saberem os efeitos nocivos dos mesmos?

A ver vamos como esta novela termina.


2 comments:

Kady Mixinge said...

A forma arrogante e descontextualizada das autoridades no tratamento deste polémica mostra que, no que toca à informação crédivel, as autoridades estão perdidas.Há um longo caminho a percorrer. As explicações dadas foram grosseiras e desrespeituosas para com os cidadãos, que viram mais uma vez, o tipo de dirigentes que a nossa Angola possui.E isto, não é propriamente uma novidade. Esta arrogância faz parte da idiossincracia do regime.
Em vez de se aterem aos factos e as ocorrências, eles procuram sempre bodes expiatórios. Infelizmente, neste vai e vem, as soluções chegam atrasadas. Neste caso em concreto, quem pagou a factura? Claro que foram os cidadãos.
Esta novela já o que tinha que dar. Por isso, devemos exigir aos servidores públicos, principalmente ao PR, que os problemas sejam resolvidos, mas, por favor, que nos poupem de toda demagogia. Definitivamente, não precisamos disto.

Wils@n - O Tal said...

Penso que entendo o que Kady quer dizer com "arrogancia" de nossos dirigentes. Tenho a impressão que na sua maioria os dirigentes nacionais quando têm de esclarecer algo começam logo por desmentir sem antes mesmo estarem ao corrente de todos os factos. Nestes casos me pergunto o que é que significa desmentir um facto? Não será antes "dez mentir" = mentir 10 vezes.