Wednesday, July 11, 2012

Uma sociedade cada vez mais atípica

As palavras têm força dizem os mais velhos. Pessoalmente nunca ignorei tal afirmação, mas nunca pensei que um simples slogan pudesse influenciar tanto a vida de um povo.

A um tempo a esta parte que se tornou moda em Angola classificar comportamentos "estranhos" como atípicos. A referência atípica advem da afirmação de um jurista nacional que ao não poder relatar a nova constituição Angolana a modelos em vigor no mundo preferiu simplificar chamando-a de atípica.

Desde então qualquer comportamento que se disvirtue do que é normal ou até mesmo correcto mas que seje pratica corrente é simplesmente justificado como sendo atípico. Nos dias de hoje o atípico significa aceitavel.

Por exemplo, quando um taxista é intepelado por um agente de transito alegadamente por excesso de lotação, este entrega entre os seus documentos e a identificação de um outro policia que lhe da cobertura mais "um saldo". Comportamento errado? Não. Apenas atípico.

A função pública Angolana é atipicamente burocratizada. Para participar de uma simples candidatura para emprego nas instituições públicas, antes mesmo da pré-seleção é exigido um par de documentos, atestado médico, registo criminal, numero de contribuinte, cópia do bilhete autenticada... entre outros. Para obtenção de cada um destes documentos o cidadão tem de desembolsar avultadas e pouco simpaticas taxas de justiça, isto sem contar o facto de ter de levar invariavelmente não menos do que parte do dia para obter o mesmo. Em geral as vagas são preenchidas por pouco mais de 1 candidato para cada 100 candidatos, mas os cofres das instituições de justiça aborrotam com as humildes contriuições dos sofredores contribuintes. Realidade atípica.

Mais atípico ainda é a forma como o processamento destes documentos ocorre nas instituições. Invariavelmente nos notários e cartórios não existe sistema pelo que o cidadão precisa ir passando para que seje atendido. O atestado médico em geral é um documento ja preenchido em que a secretária do hospital em referência apenas passa o nome e restantes dados do cidadão "apto para serviço" sem que mesmo se faça presente ou se faça exame algum. O registo criminal... bem este ao menos parece que se esta no bom caminho.

Mais atípico ainda é a reação dos cidadãos perante tanta atipicidade. Alguns como martires se entregam a porrada em protestos que começam a tornar-se moda. A maioria prefere aceitar tudo como normal. E eu????... Bem eu vou tomando nota de tanta atipicidade.


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