Sunday, November 27, 2011

"Liderança a moda Africana"

Uma das vantagens de ser estudante universitário no estrangeiro, esta no facto de poder estar em contacto com pessoas de diversas culturas e países. Nos últimos tempos decidi alargar um pouco mais o meu circlo de amizade com estudantes Africanos e tem sido interessante o que apreendo com eles.

Ao contrário dos jovens Americanos, Europeus e Asiáticos, a conversa preferida dos estudantes Africanos centra-se em politica. Pessoalmente nunca parei por muito tempo para analisar o porque deste fenomeno, mas numa resposta rapida e fria, diria que em geral os Africanos sentem-se como que oprimidos em expressar seus pontos de vista quando em sua terra natal, pelo que todas oportunidades de poder falar sobre politica é encarada como um desabafo.

As conversas em geral variam, desde a longevidade dos lideres politicos, as politicas economicas, sem deixar de passar por assuntos como a neocolonização e/ou influência das potências colonizadores no continente berço. Em geral são conversas muito animadas, por vezes mesmo pode se dizer que as mesmas são apaixonadas porque alguns dos intervenientes emitem opiniões muito fortes. Pessoalmente prefiro manter-me reservado nos meus pontos de vista, mas participo activamente das conversas, formulando questões e uma ou outra vez dando um ponto de vista.

Neste tipo de debates existem sempre ideias convergentes e dissidentes, mas um ponto de vista que é comum entre muitos dos intervenientes, é a ideia de que o conceito de democracia foi imposto a Africa. Para muitos deles, não é realista falar-se de lideranças de 1 ou 2 mandatos de 4 ou 5 anos apenas para os líderes Africanos. Para eles, a estabilidade de um povo reside na experiência de seus líderes. Socorrendo-se no conceito das tradições Africanas de liderança, eles preferem acreditar que o melhor mesmo é que um líder deve manter-se no seu posto por quantos anos a sua saúde e vontade o permitam.

Certamente que existem aqueles que pensam o contrário, mas é notório o numero de intervenientes que coincide nesta ideia de "líderança a moda Africana".

Friday, November 25, 2011

Uma questão de cultura

Sempre ouvi dizer que educação é algo que se ganha desde o berço. Alguns tenhem uma educação familiar rigida, outros nem tanto e outros ainda... bem, se calhar dizer apenas que tiveram alguma educação.

Mas tambem sempre achei que a educação, familiar em si só não é bastante. Ela precisa ser complementada com a educação formal (académica e profissional). É no ambiente de educação formal que conhecemos gente de várias culturas e estratos sociais e consequentemente nos moldamos e refinamos a nossa personalidade.

Este post é a proposito de algo que presenciei a dias e que foi de tal forma vergonhoso que por momentos achei que talvez o conceito de educação é um pouco mais complicado do que tenho em mente.

Estavamos em casa de um amigo Oeste Africano, eramos cerca de 20 a 25 todos estudantes Africanos de várias partes de Africa. Celebravamos o dia de acção de graças, estava o pessoal todo animado e a festa prometia aquecer, mas entre todos os presentes a esposa do anfitrião parecia ser a menos contente. De facto, enquanto nos encontravamos na sala comendo, bebendo e dançando com o marido tentando animar a festa, a senhora atravessava várias vezes a sala com ares de pouco animada. Na verdade ninguem prestava atenção a ela, mas o certo é que a senhora ja estava mesmo farta de ter-nos em casa após 2 horas de convivio. Sem mais nem porque, foi a trazeira de casa e desligou a energia electrica.

De forma ordeira recolhemos nossos haveres e fomos continuar a festa em outro lugar. O marido da senhora apesar do incidente em casa, preferiu seguir-nos e continuar com a celebração. Durante algum tempo tentou demostrar naturalidade, mas a determinada altura pediu silêncio e desculpou-se a todos pelo que se tinha passado em sua casa.

Por esta altura parei e pensei comigo mesmo o que faz com que uma senhora educada sujeite seu marido a passar por tamanha vergonha? Talvez poderia ter acontecido que o marido a tenha desrespeitado se eventualmente não lhe havia informado da nossa presença com a devida antecedência, mas desrespeitar os colegas e amigos do marido talvez tenha sido um extremo muito para além daquilo o que uma educação de berço equilibrada nunca teria permitido. Sera ?

Sunday, November 6, 2011

Makerere University um motivo de orgulho


No primeiro dia de Novembro deste ano, a universidade de Makerere fez notícia ao anunciar ter testado com sucesso o primeiro carro electrico fabricado naquela instituição.

Makerere é uma das mais antigas universidades do Uganda e de África. Foi fundada em 1922, inicialmente como um colégio tecnologico, transformou-se oficialmente em universidade no ano de 1963. De acordo ao Webometrics, Makerere é a 10.ª melhor universidade de África num top em que apenas Makerere e a universidade do Cairo (7.ª lugar) não são universidades da África do Sul.

O carro baptizado com o nome de Kiira EV foi projectado e implemantado pela faculdade de Engenharia, Design, Arte e Tecnologia da mesma universidade. Kiira EV é um carro para 2 oucupantes e pode percorrer até 80Km sem recarregar e atinge a velocidade maxima de 60Km/h. Este carro não deverá ser comercializado. A versão comercial deverá ter 7 lugares e ser capaz de percorrer até 200 Km sem necessitar recarregar as baterias, pois contará com alimentação a base de baterias de litium e painel solar.

Kiira EV é o segundo carro produzido pela universidade Makerere, o primeiro foi fabricado em 2008 e chama-se Vision 200. No entanto, este prototipo depois de fabricado, foi levado para exibição em Italia, Belgica e Estados Unidos, tendo ficado neste ultimo país na universidade de Massachusetts (MIT) devido ao facto de a universidade Ugandesa não ter conseguido arrecadar fundos suficientes para providenciar a volta do veiculo.



Thursday, November 3, 2011

Flash Back


São 12 horas é meio dia, o transito esta infernal, avança-se tão lentamente que mais parece um velorio. Os taxistas impacientes vão fazendo faixas de transito adicionais no passeio e a confusão esta instalada, peões e veiculos sem respeito uns pelos outros (ou talvez os segundos menos pelos primeiros) vão-se enfrentando na caotica Avenida Deolinda Rodrigues.

E lá estão também, decorando as ruas com seus artigos que a todo custo vão tentando impingir aos automobilistas, os vendores ambulantes, que numa tentativa feroz de sobrevivência enfrentam o sol, transito, fome e o perigo maior os fiscais. Lá vai a grande confusão de palavras, sons e musicas estridentes, “Maianga, Maianga ...”, “1.º de Maio Aeroporto ...”, “Gasosa, a cerveja ...”, “Olha o malaike tira o pé ...”, “Dia e noite, noite e dia ...” , os mais descuidados vão perdendo os seus haveres nas paragens e sobretudo os telemoveis.

Ao longe vão-se ouvindo sirenes aflitas uivando fortemente, parece ser uma situação mesmo grave, comentam os traseuntes pois as sirenes não param, será o mais velho a caminho? De certeza que não olhe que não há tropas na rua. De facto não se vislumbra nenhum dos milhares de tropas que caracteriza as deslocações de Sua Excelência, as sirenes estão mais proximas a todo custo vão avançando, vê-se ao longe as sirenes azuis das carrinhas brancas, oucupando a faixa de rodagem de sentido contrário obrigando os automobilistas deste sentido a andarem no passeio, acho que trazem feridos graves, nota-se agora mais proximos nas carrinhas aflitas, homens envergando fardas de uma das empresas de segurança da cidade, fortemente armados com metralhadoras, AKM e granadas, o que é que se está a passar? Ohh, Não liga! Estes muadies andão sempre mesmo assim, deve ser a massa dos Boss que eles estão a levar..

Sabe-se agora que é mais um dos habituais movimentos das empresas que transportam valores. Não é facil entender mais tem sido assim nesta cidade, a população traumatizada pela guerra é obrigada a ver a todo momento armas de todos calibres, umas vezes são as empresas de segurança, outras os policias e com mais impacto a tropa de segurança da presidência.

Para quem enfrentou os confrontos militares que eclodiram por todo o pais sabe qual é o efeito destas armas, conviver com os homens que as portam no dia-a-dia em todas esquinas da cidade, com o stress que é a vida na cidade no minimo é muito constrangedor. Mas porque o sentimento do povo não conta, do povo o que conta é o voto no momento decisivo, enquanto não for momento decisivo em primeiro lugar estará a segurança do dinheiro dos Boss e a garantia absoluta da intimidação dos que um dia ousarem em atentar contra a integridade de quem merece a segurança acima de tudo e todos.

Março 2005.