Minha familia |
Em geral nas nossas tradições africana, a educação dos filhos esta entregue a responsabilidade da mãe. E pelo facto de minha mãe ser do Sul, certamente que a minha foi baseada nos valores culturais do sul. No entanto tal educação em determinadas alturas conflituava com os valores de meus familiares paternos e amigos. Lembro-me que minha mãe sempre insistiu comigo que ao ser convidado em casa "alheia" nunca deveria ir para além de onde meu anfitrião me convidasse a entrar. E mesmo assim, deveria sempre limitar-me as areas comuns.
No entanto, não demorou muito para que me desse conta que se na maior parte das vezes eu me conseguia limitar a estes espaços - na verdade nem era dificil porque raramente brincava em casa dos outros - ja os meus amigos pareciam ter dificuldades em limitar-se a estes espaços. Lembro-me que muitos deles não tinham problemas em seguir-me para qualquer lado dos compartimentos de minha casa incluindo o quarto de minha mãe, que segundo a educação era o lugar que ja mais eu entraria em casa dos outros.
Se esta é uma regra que até hoje tenho dificuldades em quebrar, lembro de outra que tive de fazer-lo sem o consentimento dela.
A mãe sempre recomendou que nunca deveria ir para casa dos amigos proximo das horas das refeições porque não é bom custome ter de comer em casa alheia. Durante a infância e adolescencia, foi quase sempre possivel respeitar tais regras. No entanto a partir da altura em que comecei a frequentar o ensino médio e como tal, muita das vezes tinha de ir aos grupos de estudos com sessões que se prolongavam até altas horas, começou a tornar-se dificil respeitar as regras da mãe. Primeiro, porque a velha desculpa de que não tinha fome nem sempre funcionava. Era mais do que obvio que depois de 4 a 5 horas de estudo tinha mesmo de ter fome. Mas o mais dificil mesmo era rejeitar quando era convidado a comer refeições "humildes". É que sempre ficaria a impressão de estar a rejeitar pela "pobreza do prato".
Por esta altura, jogava sempre na diplomacia antes de rejeitar. Mas no entanto sempre ficava aquele peso de consciência por estar a ir contra os principios de casa.
A determinada altura, tive de sair com a mãe em visita a uma amiga sua que tinha alguem doente em casa. Lembro-me que naquela faze a nossas condição social era mesmo humilde, mas a amiga em questão passava por dificuldades que deixou-me mesmo comovido. E deu-se que a visita prolongou-se para além das horas da refeição. Conforme os bons custumes africanos, não nos foi perguntado se queriamos almoçar, simplesmente nos foi trazido o alimento. E ainda recordo que a refeição era de algo que minha mãe em geral não gostava de comer, mas naquela ocasião ela aceitou sem cerimonias e comeu com toda a satisfação.
Certamente que tambem o fiz, mas durante o resto da visita não parava de desejar que a mesma terminasse logo para fazer a pergunta que mais me aponquetava.
Na verdade nunca fiz tal pergunta, simplesmente depreendi que eu na verdade sempre estive certo. Existem excepções a regra.