Sunday, September 13, 2009

Gente de Quem se Fala


A dias recebi uma mensagem quando me encontrava offline no messenger. A mensagem era de meu velho colega de curso Celso Gomes a encorajar-me a continuar com este blog. Talvez para muita gente, Celso Gomes é apenas um simples nome, um illustre desconhecido. Mas para outros tantos, Celso é uma referencia, um icone de que todos os estudantes de Geofisica e não só deveriam se orgulhar.

Conheci Celso, era ainda caloiro na Faculdade de Ciências. Na altura existia um nucleo de estudantes de Geofisica e Celso fazia parte deste nucleo. A SEGUAN, como era conhecido o nucleo, procurava congregar os estudantes de Geofisicas da UAN, divulgar a actividade dos Geofisicos, importância do curso e estreitar relações com outras organizações congeneres junto da industria local e a nivel mundial. Celso não era o presidente, mas era um dos varios membro activos da SEGUAN. Na altura ele deveria estar ja no 3.º ano do curso. E o Departamento passava por varias dificuldades. Na verdade a geração dele foi das primeira do Departamento de Geofisica. Existia anteriormente o curso de Geofisica na faculdade, mas apenas como uma especialidade dentro do curso de Geologia. Mas com o professor Boavida e outros tantos estudantes, o curso de Geofisica conseguiu separar-se de Geologia e tornar-se num Departamento autonomo.


A verdade é que a batalha para a independencia da Geofisica não foi facil. Foram precisas muitas noites de vigilias. Celso e outros colegas da Geologia participaram desta pressão a Faculdade e a Universidade. E mesmo depois de se lhes ter cedido a vontade, os aposentos a que lhes foi dado, eram antigas arrecadações no 4.º andar do predio da TAP, que mais pareciam armazens nas barrocas da Boa Vista. Foi este grupo de estudantes do qual Celso fazia parte, liderados pelo prof. Boavida que transformou aquela espelunca no que é hoje: motivo de orgulho para os estudantes que por lá passaram, e referencia para o país que tem finalmente formado quadros em um ramo de que a industria muito carece.

Mas as minhas memorias em relação ao Celso não se esgotam por ali. No ano seguinte a minha entrada na Faculdade, Celso era aluno do 4.º ano e a Faculdade debatia-se com o problema do fraco associativismo juvenil. Na verdade a Associação de Estudantes havia desaparecido fazia algum tempo. E Celso havia decidido de que ele podia de alguma forma contribuir para relançar a mesma. Por esta altura criou-se na Faculdade uma Comissão que deveria restruturar a Associação e criar condições para as eleições. Fui convidado a fazer parte da Comissão Eleitoral como vogal. Não obstante a minha posição na Comissão, era tambem o delegado de turma dos Geofisicos no 1.º ano e havia sido releito no 2.º ano. Como Geofisico era de meu interesse e de todos os estudantes do Curso, de que Celso fosse eleito. Por aquela altura existia uma corrente tal de solidariedade entre os Geofisicos, ao ponto dos estudantes do 1.º ao 5.º ano conhecerem-se todos.

Estavamos em vespera das eleições, e Celso ja havia oficialmente manifestado sua vontade de concorrer. Como Geofisico agradava-me a ideia de ter um colega na liderança, mas no entanto pesava-me a consciencia saber que este mesmo colega depois de tomar as pastas não poderia levar o seu mandato até ao fim por que iria terminar a sua formação muito antes do mandato. Em parte a situação da Associação havia se degradado exactamente pelo mesmo motivo em relação a presidência anterior. Solicitei ao Celso uns minutos para que conversassemos sobre o assunto. De pronto o jovem acedeu, marcamos o dia e na data marcada fui la ter com ele. Encontrei-o na pequena varanda da cozinha do Departamento, sentado na sua cadeira de girar e com um ar altamente oficial. Fez questão de levantar-se a minha chegada e convidar-me a sentar a mesa. Após aquele gesto e semblante de meu interlucutor, dei conta do quão sério era o assunto de que iriamos tratar.

Por cerca de 30 minutos, Celso debateu comigo os motivos porque acreditava que a candidatura dele era importante e o porque não achava que a Associação deveria cair na letargia após o termino da sua licenciatura. Definitivamente os argumentos que ele usou em relação as linhas de força com que cozeria o seu mandato foram suficientemente convincentes. De facto fiquei impressionado. No entanto mantive a minha reserva em relação ao timing. Poucas semanas depois, em uma disputadissima eleição Celso ganhou o cadeirão. Nos meses seguintes notou-se muito empenho e dedicação por parte dele e de sua direção. A sede da Associação foi adquirida e apetrechada. O jornal O Cientista foi relançado, na sua versão de placard informativo e tambem na sua versao de jornal de ciculação(apesar de que esta ultima so viu a luz do dia por duas vezes). Por esta altura dão-se as várias greves na Universidade e a Faculdade de Ciencias tornou-se um dos bastiões da resistência dos estudantes contra a mesma. Celso, Paulo Aguiar e os representantes da Associação de Estudantes das Faculdades de Medicina juntaram-se a liderança dos representantes dos estudantes do ISCED na mobilização dos protesto dos Estudantes. Todas estas actividades marcaram os pontos altos da liderança de Celso. Mas felizmente para ele, e infelizmente para o associativismo na Faculdade de Ciencias, conforme previa, Celso terminou a licenciatura e graças ao seu brilhantismo como estudante, os patrocinadores de sua bolsa de estudo pretenderam que ele deefendesse prontamente e continuasse seu mestrado no exterior do país.

Celso defendeu a tese de sua licenciatura, abandonou a faculdade e seus adjuntos a frente da Associação foram incapazes de dar continuidade ao bom trabalho que se estava a desenvolver. Em pouco tempo deixou de ouvir-se falar em Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências. A porta da associação permaneceu trancada por mais de um ano enquantoos restantes membros da Associação abandovam a faculdade a medida em que iam defendendo as suas teses.

Celso a mais de 2 anos que terminou seu mestrado em França e encontra-se ja de regresso ao país a servir a companhia Total. Apesar de não ter terminado seu mandato a frente da Associação de Estudantes da FACUAN, Celso torna-se uma referencia entre os estudantes pela sua dedicação ao associativismo e pelo seu desempenho academico. Em ambos os campos Celso revelou-se competente facto que nos nossos dias torna-se cada vez mais raro. Alunos brilhantes não estão interessados em desempanhar actividades nas associações juvenis bem como são muitos aqueles os que vêm nas associações portas de escapatoria para o seu fraco rendimento academico.