Sunday, August 30, 2009

Meu amigo ladrão sorridente

Ja la vão varios anos desde que conheço João Quingaia. Ja nem sequer me lembro se fomos apresentados ou se por alguma casualidade nossos caminhos cruzaram-se, mas a verdade é que ja la vão varios anos desde que nos conhecemos. Foi algures nos finais dos anos 2000, quando a figura franzina de Quinguaia cruzou minhas vistas. Na verdade eu também não passava de outro franzino, mas é curioso que quando pela primeira vez dei com as minhas vistas por cima dele, fixei logo o aspecto dele fisico e tentei mentalmente buscar a figura que minha mente teimava em relacionar com a dele.

Poucas horas depois, dei por mim a sorrir descontroladamente, alto e em bom som, sem que meus companheiros da circunstancia pudessem perceber do que se tratava. Sim, João Quinguaia era a cara do Ladrão Sorridente. Era assim que passei a chamar-lhe até que finalmente pude memorizar o nome dele real. Li pela primeira vez sobre esta personagem da banda desenhada em um pedaço de revista em quadradinhos, que por algum motivo foi parar em minhas mãos. Naquela altura as revistas em quadradinhos faziam moda. Mandrake, talvez não era meu personagem favorito, mas o caso do ladrão sorridente me pareceu muito interessante. Tão interessante que passado varios anos ainda pude relacionar a imagem daquela figura ao meu amigo Quinguaia.

Na verdade Quinguaia não é nenhum ladrão e se calhar não tem nenhum sorriso estampado permanentemente no seu rosto. Mas de alguma forma o primeiro sorriso dele esteve muito proximo do sorriso do ladrão. Mas isto não impidiu de que entre nós se criasse uma bela amizade. Por muitos anos Quinguaia partilhou comigo o gosto pela leitura e escrita. Trabalhamos juntos no Jornal mural e juntos também vivemos algumas aventuras da nossa adolescencia e juventude.

Hoje Quinguaia é um respeitado chefe de familia e oficial das forças armadas, mas ainda assim não deixo de recordar-me dele como o LADRÂO SORRIDENTE.

Wednesday, August 26, 2009

Os bons tempos não se foram

Ja la vão varios anos desde que pela primeira vez plantei um papel em um placard mural. Nesta altura faziamos um pequeno jornal mural na capela de Santo Inácio, talvez não muito informativo, mas ainda assim conseguiu conquistar seu espaço entre os adolescentes e jovens. Não é que alguma vez tivesse apreendido como elaborar um jornal mural ou escrever para o publico, mas o desafio de fazer-lo foi muito mais interessante do que questionar a mim mesmo até que ponto estava preparado para tal.

Na altura ja se fazia jornal mural em Santo Inacio, e Carlos Cardoso “Carlitos” ja era um dos jovens mais activos da comunidade. Por indicação de um seminarista, Carlitos veio ter comigo e disse que não existia outra pessoa em Santo Inácio que pudesse tornar aquela primeira edição do placard informativo que havia sido feito em alusão as festividades do padroeiro do centro, um jornal se não eu. Claro que ele so poderia estar exagerando, mas a verdade é que ele queria ver-me mais envolvido nas actividades do Centro e definitivamente encontrou algo porque me amarrar.

Poucas semanas depois, com o apoio de Elizeu Q, reunimos uma pequena equipe que tornou-se no então corpo editorial do Jornal Mural. A primeira edição soou que nem uma bomba. Não se estava habituado no centro a ter jornais murais que que elaborassem artigos. Até aquela altura, jornais murais eram mais a base de recortes e adornos. Mas para quebrar a monotomia, o novo mural aparece com textos originais e computarizados em vez de dactilografados. E mais ainda, com artigos sobre a realidade do centro envolvendo gente que todos na comunidade conheciam.

Mas se calhar nada gerou mais conversa naquelas semanas, como foi o editorial daquela edição. No editorial eu chamava atenção a crise de liderança juvenil no centro, procurei relacionar tal assunto, ao facto das gerações anteriores não terem sido capazes de traçar um certo programa de continuidade que viabilizasse a continuidade do activismo juvenil e organizativo que era caracteristico em Santo Inicio no final da decada de 80 e principios de 90. É bem verdade que na altura eu era um fedelho, mas ainda assim pude maravilhar-me com as espectaculares tardes recreativas, presenciar os Kotas sairem para as mais faladas excursões ou ainda ouvir os padres comentarem o sucesso que foi esta ou aquela actividade dos jovens de Santo Inacio em outras paroquias.

Confesso que de inicio fiquei assustado quando os kotas das diversas gerações que eu mencionava nos editorias mandavam recados para que me disponibilizasse a sentar-me com eles. Mas a verdade é que a partir de tais conversas pude entender melhor certos aspectos do associativismo juvenil e continuar dando meu apoio. Kota Mario foi um dos que desde a primeira hora procurou-me. Sentou-se comigo, justificou-se e esclareceu que da geração dele a geração do Paixão (que ao fim ao cabo é a mesma) a transição funcionou perfeitamente. Já o Paixão, disse o mesmo em relação ao ter passado as pastas aos Carlitos, Diogoas e Elizeus. Mas a verdade é que na faze em que eu me refiro, por ali entre 1995 a 1998 existia uma grande ausencia de associativismo juvenil em Santo Inacio. No entanto, não sei até que ponto estas conversa e escritos influenciou alguma coisa, mas a verdade é que por esta mesma altura as coisas começaram a recompor-se.

Basicamente existiam apenas o grupo dos Acólitos, a Cruzada e estava a nascer o grupo do MEJ. O grupo do MEJ, ao meu ver foi um dos maiores impulsionadores da nova era da juventude de S.I. Primeiro porque apesar de ser liderado por um jovem que na altura não tinha experiencia nenhuma em associativismo juvenil, conseguiu congregar muita daquela juventude que estava de saida da igreja. De saida porque na maior parte das vezes, depois de frequentarem a catequese, a maior parte dos jovens após uns poucos anos ou semanas de regularidade na missa, pura e simplemente desaparecia da Igreja. Portanto Eliseu Quituxi fez um excelente trabalho ao procurar convencer estes jovens a enquadrar-se no grupo do MEJ. E mais, o grupo do MEJ na altura acolhia a maioria dos jovens que tinham instrução ao nivel do esino médio, o que por si elevava o debate no grupo a um nivel interessante.

Talvez inspirados pela mesma popularidade do grupo do MEJ, surge pouco tempo depois o Grupo do Protocolo, que poucos anos depois mudou sua denominação para grupo do Acolhimento. O surgimento deste grupo tem tambem uma historia muito interessante, envolvendo uma disputa eleitoral muito conturbada mas que veio trazer outra dinamica ao interesse na liderança juvenil. Não poderia deixar de mencionar aqui a existência do grupo coral juvenil, que apesar de todas estas situações sobreviveu, apesar de reduzido a grupo feminino por aquela altura. Vozes como da Jú, Marlene, Milena e Lina animaram as manhas de domingo e noites de missa solene com a mesma doçura e beleza até terem sido “reformadas”.

Esta dinamica toda que aconteceu por volta dos anos 97 e 98 propriciou a revitalização do grupo dos jovens, uma vez que a juventude estava novamente de volta ao centro. No entanto os factos seriam omitidos se não mencionasse o grande esforço do Manuel com o seu “Mano Show”... Mas sobre isto preciso escrever um outro artigo porque me pare que as origens destas actividades passa por mencionar os grupos jovens de oração e outras actividades. Mas a certeza que fica é que após uma certa crise no associativismo juvenil, os jovens de Santo Inácio poderam resurgir e nomes como, Carlitos, Elizeu, Diogo e Mano não podem de forma alguma ser omitidos.

Monday, August 24, 2009

Mais Umas Ferias Foram-se



Estou de volta a minha casa.

Casa?

Na verdade não é propriamente isto, mas dado que a mais de três anos vivo distante de casa, devo assumir Texas como sendo minha casa. Estou vindo de ferias de verão pelo velho continente depois de um semestre de verão pesado. Foi interessante ter mais uma vez estado em Lisboa, encontrar-me com familiares velhos e novos amigos. Talvez a estadia foi curta demais, mas pelo custo de vida na Europa, nunca é facil manter-se com as pouquissimas poupanças de um simples estudante universitário.

É incrivel como para uma Coca Cola (simplesmente Cola como se diz por lá) o individuo tem de desembolsar $1.5 Euros, quando a lata nem sequer tem 33 centilitros. Para o mesmo producto e com o tamanho de 33 centilitros nos EUA paga-se cerca de $0.75 dolares apenas. Se convertido em Euros, a Coca Cola em EUA custa qualquer coisa como $0.50 Euros, ceus!!!!! Isto é 3 vezes mais barato. Nem em Angola a mesma marca de refrigerante custa assim tão caro. Porque será?

Nestes assuntos de economia talvez seja melhor eu me afastar por enquanto, mas a verdade é que quando se tem algum dinheiro nos bolsos Portugal é um paraiso para os amantes da boa gastronomia. Disto não tenho duvidas. Desde os suculentos bifes aos mais exoticos pratos de bacalhau. Talvez seje este o segredo porque os Portugueses fazem parte das estatisticas como um povo com notável longevidade. Em muitas vilas e cidades Portuguesas, quase não se encontram jovens vivendo, apenas velhos com médias de idade muito proximo dos 70. Este facto é realmente interessante porque até, a maior parte da população Portuguesa é pobre. Talvez não vivendo nos limites da pobreza conforme acontece com a maioria da população Angolana. Mas a verdade é que os Portugueses são povos de posse humilde. A propria arquitectura das cidades espelha isto. em Plena Lisboa não se vislumbram arranha-ceus, nem predios de arquitectura luxuosa. Antes pelo contrario, a grande Lisboa é um contraste de predios centenarios e modestos edificios modernos.

No entanto, tal simplicidade não tira o encanto de Lisboa. Penso que Lisboa é uma cidade funcional. É eficiente com os seus meios de transporte publicos e esta antiguidade toda a volta da cidade torna-a um destino turistico muito frequentado. Pelas ruas de Lisboa fala-se muito espanhol e inglês para além do obvio português. Pelos restaurantes é notorio a presença de estrangeiros a abarrota-los. Ve-se familias inteiras de Ingleses a tirar a barriga da miseria do que é a culinaria britanica. Ve-se Americanos a desejar que Portugal fô-se ali ja na esquina do Texas. Mas por mais que se queira falar bem de Lisboa, a realidade dos emigrantes acaba sempre saltando a vista.

É bem verdade de como Portugal é um país pobre, que precisa combater varios problemas sociais que afectam sua população. Mas também é verdade que a discriminação social em relação aos emigrantes e sobretudo Africanos ainda é por demais evidente. Quase não se vê Africanos ou seus descendentes em posições de destaque nas repartições Portuguesas. Africanos continuam sendo mãos de obra barata para os empregos de serviçais e ajudantes em obras de construção civil. Continuam sendo os tais homens e mulheres da limpeza, os tais que de posições intermedias não passam por mais habilitações que tenham. O contraste é tão evidente, ao ponto de jovens formados na mesma Universidade e muita das vezes colegas de turma, a distinção na hora da atribuição do tão concorrido posto de emprego, acaba de alguma forma, mesmo não escrita, recaindo na cor da pele, ou origem. Faça esta analíse sentido ou não, a verdade é que Povos vindo do Brasil, agora com os tais acordos de isenção de visto entre Brasil e Portugal, têm tratamento completamente diferenciado. De 2008 ao presente, a presença de Brasileiros na sociedade Portuguesa se faz sentir com tal notariedade que não tem como não chamar a atenção para o contraste em relação aos Africanos e seus descendentes que apesar do suporte e acolhimento que dão aos Portugueses nos seus países não merecem das mesmas oportunidades.

Talvez seje este ultimo um assunto que tem as suas raizes e justificações em questões politicas, mas a verdade é que não pude deixar de analisar estes pequenos detalhes enquanto me reclino sobre a poltrona do meu assento neste voo de regresso a “casa”.